Um Filme Inspirado na Vida de Gerhard Richter que Ele Preferia Manter em Segredo

Sabias que o filme “Nunca Deixes de Olhar”, estreado a 16 de janeiro com o apoio da RFM e nomeado para os Óscares nas categorias de Melhor Cinematografia e Melhor Filme Estrangeiro, é inspirado na vida de um dos maiores pintores das últimas décadas?

A produção narra a infância e juventude do artista plástico alemão Kurt Barnert, num percurso marcado pelos tempos conturbados da Segunda Guerra Mundial e do pós-guerra, entre 1937 e 1967. Contudo, foi na trajetória e obra do célebre pintor alemão Gerhard Richter que o realizador Florian Henckel von Donnersmarck encontrou a sua principal inspiração.

Gerhard Richter, considerado um dos maiores pintores em atividade, tem explorado uma vasta gama de técnicas e conceitos ao longo de mais de seis décadas. As suas criações refletem conflitos históricos, influências dos media e processos criativos inovadores. Richter viveu a infância sob o regime nacional-socialista e suportou mais de 16 anos sob o regime comunista da Alemanha de Leste, antes de se mudar para a Alemanha Ocidental em 1961, após a construção do Muro de Berlim.

Hoje, aos 86 anos, Richter reside em Dresden e mantém-se ativo como pintor, professor universitário e artista plástico. A sua obra é amplamente reconhecida e respeitada no mundo da arte contemporânea.

Apesar de ter concordado inicialmente com o guião e de ter assistido apenas ao trailer de “Nunca Deixes de Olhar”, na altura da estreia, Richter revelou à revista New Yorker que tinha um mau pressentimento em relação ao filme. Afirmou ainda que tinha advertido o realizador que não apoiaria uma obra baseada na sua vida.

Perplexo com a reação do pintor, Florian Henckel von Donnersmarck explicou ao site Artnet News que Richter nunca chegou a ver o filme completo e que as duas alterações pedidas ao guião foram feitas. “Se ele não queria que eu utilizasse detalhes da sua vida no filme, por que razão me contou tantos pormenores durante semanas?”, questionou o realizador.

Segundo a New Yorker, Gerhard Richter é conhecido por querer controlar todos os aspetos relacionados com a sua obra. Ele próprio já criou uma lista oficial dos seus trabalhos, editando e ajustando rigorosamente o seu acervo para garantir que a sua visão artística se mantém intacta.

Embora “Nunca Deixes de Olhar” tenha sido amplamente elogiado, a relação complexa entre arte e biografia pessoal continua a levantar questões sobre os limites da inspiração artística e os direitos de representação na arte cinematográfica.