“Criada”: A série que emociona Portugal com um retrato cru de sobrevivência materna

A série Criada, uma das mais vistas da Netflix em Portugal — apenas atrás de Squid Game —, apresenta uma narrativa intensa e profundamente humana sobre a luta de uma jovem mãe contra a pobreza, o abuso e a invisibilidade social. Protagonizada por Margaret Qualley, conhecida pelo seu papel em Era Uma Vez… em Hollywood, a produção oferece um retrato honesto e comovente da força feminina diante da adversidade.

Alex é uma mulher que, apesar dos seus sonhos e ambições, vê-se encurralada numa relação abusiva com Sean, o pai da sua filha. Quando os abusos físicos e psicológicos se tornam insustentáveis, ela toma uma decisão radical: fugir. Essa escolha marca o início de uma nova vida, pautada por desafios constantes, onde a prioridade absoluta passa a ser garantir segurança e sustento para a filha.

Ao abandonar o companheiro agressivo, Alex não encontra imediatamente liberdade. Em vez disso, depara-se com um sistema social hostil e com dificuldades que parecem multiplicar-se: falta de habitação, ausência de apoio familiar, precariedade laboral e a constante ameaça de perder a guarda da filha. A realidade imposta obriga-a a reconstruir a sua identidade a partir do zero, muitas vezes em condições indignas.

Numa das cenas marcantes da série, uma patroa resume-lhe o essencial: “O trabalho é a única coisa com que se pode contar, porque tudo o resto é demasiado frágil.” Esta frase ecoa ao longo da série como um lembrete cruel da instabilidade que domina a vida de Alex. Apesar disso, ela agarra-se ao que tem — empregos mal pagos como empregada de limpeza, abrigos temporários, ajuda social e, acima de tudo, à sua vontade férrea de garantir um futuro diferente para a filha.

Ao longo dos dez episódios, a narrativa desenrola-se sem pressa, espelhando o ritmo realista das lutas diárias de quem vive na margem da sociedade. As dificuldades legais, as humilhações silenciosas, os conflitos com o ex-companheiro e as burocracias implacáveis desenham um cenário angustiante, mas também revelam a resiliência notável da protagonista.

Alex não é apresentada como uma heroína tradicional. Ela é humana, falha, hesita e, por vezes, quase desiste. Mas é precisamente essa complexidade que torna a sua história tão impactante. O espectador acompanha, impotente mas solidário, cada tropeço, cada pequena vitória e cada decisão dolorosa que a personagem é forçada a tomar.

No fim, a Alex que emerge não é a mesma do início. A sua expressão revela maturidade, dor e uma certa perda de inocência — consequências inevitáveis do percurso vivido. No entanto, permanece de pé, determinada a seguir em frente, mesmo sabendo que o caminho continua incerto.

Criada não é apenas uma série sobre violência doméstica ou pobreza. É, sobretudo, um testemunho sobre a persistência de uma mulher que recusa ser definida pelas circunstâncias e que, mesmo diante de um mundo indiferente, escolhe continuar. É esta força silenciosa que a torna inesquecível.