Tom Cruise regressa a Cannes com um turbilhão de ação na suposta despedida de “Missão: Impossível”

O Festival de Cannes voltou a abrir espaço para o espetáculo comercial com a estreia de “Missão: Impossível – Sentença Final – Parte 2”, protagonizado por Tom Cruise, que regressa à Croisette não só como ator, mas como símbolo de uma Hollywood que insiste em não desacelerar. A longa-metragem, apresentada fora de competição, chega às salas de cinema em Espanha a 23 de maio, com uma promessa clara: não deixar ao espectador nem um segundo para respirar ou refletir.

Cannes, tradicionalmente palco do cinema autoral e reflexivo, tem, nos últimos anos, acolhido também blockbusters que garantem visibilidade mediática. Thierry Frémaux, o diretor do certame, parece ciente de que, numa era dominada por ecrãs múltiplos e atenção fragmentada, figuras como Tom Cruise garantem cliques, cobertura mediática e entusiasmo popular. Já aconteceu com “Top Gun: Maverick” e com a mais recente aventura de Indiana Jones. Desta vez, o ator norte-americano surge com a nova (e alegadamente última) entrada da franquia “Missão: Impossível”.

Apesar das expectativas, Cruise limitou-se a desfilar pela passadeira vermelha de forma discreta, acompanhado por nomes como Simon Pegg, Angela Bassett e o realizador Christopher McQuarrie. Nada de acrobacias em motos ou saltos de paraquedas, como alguns esperavam. Foi a terceira vez do ator no festival: a primeira foi em 1992 com “Horizonte Longínquo” e, mais recentemente, em 2022, quando recebeu a Palma de Honra pela sua carreira.

Com 62 anos, Cruise continua a ser um dos rostos mais resilientes de Hollywood, mantendo-se ativo e fiel à sua imagem de estrela de ação. Dentro e fora do ecrã, encarna Ethan Hunt desde 1996, papel que lhe valeu reconhecimento mundial. Ao longo das décadas, o agente da IMF enfrentou desde conspirações militares até traficantes de armas, mas agora o seu maior inimigo é a inteligência artificial — um reflexo direto dos novos medos do mundo contemporâneo.

A mudança é constante: os antagonistas evoluem, as ameaças transformam-se e até as parceiras femininas mudam de rosto — de Emmanuelle Béart a Hayley Atwell, passando por Rebecca Ferguson. Contudo, Ethan Hunt permanece inalterado, correndo contra o tempo com a mesma intensidade de há quase 30 anos.

“Missão: Impossível – Sentença Final – Parte 2” é, em muitos aspetos, uma montagem frenética de cenas de ação coladas umas às outras com o mínimo de transições. Durante mais de metade das suas quase três horas de duração, o filme parece um trailer prolongado, desenhado para manter o espectador num constante estado de alerta, sem pausas, sem contemplação.

A narrativa abandona o desenvolvimento tradicional em prol da adrenalina pura, com saltos temporais, revisitações de episódios anteriores e referências visuais a capítulos passados — como se fosse um episódio comemorativo da própria saga. Há flashbacks, momentos atuais e visões futuras num mesmo fio narrativo, misturando tudo num caldeirão pós-moderno que se auto-homenageia.

Apesar das suas falhas estruturais, o filme cumpre o que promete: espetáculo e intensidade. Para os fãs, é uma celebração nostálgica. Para os críticos, um sinal de alerta sobre a diluição narrativa em prol da ação desenfreada. Ainda assim, Tom Cruise continua a ser o motor que mantém esta máquina em movimento — e, como tal, continua a correr.